Mente Inquieta, Uma

Li Uma Mente Inquieta e gostei bastante. Quando vi que havia outro livro da mesma autora, resolvi comprar. Para minha surpresa, descobri que este TAB: Memórias é exatamente o mesmo livro, lançado alguns poucos anos depois, por outra editora e com outro nome completamente diferente, e isso pode levar outras pessoas como eu a uma compra repetida.Quanto à edição, o livro é muito bonito e bem editado. Ainda não comparei as traduções para saber qual das duas versões tem o melhor texto, mas como estava lendo a versão "Uma Mente Inquieta" e estava na metade, vou ler a outra metade nesta versão, e comparar alguns trechos das partes que já havia lido.Depois de ler o livro todo, metade em cada versão, e compará-las, posso dizer que ambas as traduções são bem equivalentes, então sugiro que comprem a versão mais barata.

Antes de começar a leitura pensei em sublinhar um ou outro ponto que me chamasse a atenção ou que eu me identificasse. Estou sublinhando quase o livro todo que estou devorando como um maníaco.A cada frase uma ou outra lembrança de atos que estavam escondidos lá na memória. Algumas linhas para lágrimas escorrerem. Finalmente me encontro no meu transtorno me reconhecendo (e me auto-conhecendo) no transtorno de outra pessoa. De uma pessoa que é uma autoridade no assunto e que vivencia o caos e o inferno da felicidade ilusória da euforia e da decadência humilhante da depressão. Compreensão. O que falta em quem está ao lado ou próximo de quem tem TAB. Compreender no sentido de entender, de sair da ignorância completa sobre um mal que mata tanto ou mais quanto um câncer ou outras doenças, sendo que nestas o doente tem acompanhamento, conforto, acolhimento, algo que a maioria das pessoas que tem transtornos psíquicos não possui. Um alento, um acalanto, um refúgio para se redescobrir e quiçá obter forças para lutar e lutar e lutar após cair e cair e cair...paro aqui para secar mais lágrimas.

Ótima entrega, veio antes do prazo. Minhas ressalvas são em relação à edição: não foi adaptada às novas regras ortográficas (ainda lê-se "idéia", por exemplo), utiliza termos em desuso para tratar o transtorno bipolar e algumas frases foram claramente traduzidas direto do inglês, sem o cuidado de uma adaptação (inserção de vírgulas, mudança na ordem de algumas palavras, o mínimo necessário já teria resolvido), e isso pode confundir o leitor, apesar de serem sutilezas que podem passar despercebidas para alguns.

Se você é uma pessoa que tem transtorno bipolar ou acha que tem ou quer entender melhor como funciona a vida de alguém que tem, recomendo esse livro. O livro traz a história da Kay Redfield e me ajudou a compreender muito do que vivenciei com meu transtorno e não sabia explicar. Eu me senti acolhida pelo livro e compreendida como poucas vezes na minha vida.

O transtorno bipolar costuma ser glamourizado pela sétima arte. Mas a realidade é bem mais complicada, só quem tem ou conhece alguém que tenha, entende o que estou dizendo.A autora foi corajosa em expor o seu mundo particular, uma vez que ela própria é uma psiquiatra.É um livro bem escrito e fiel à realidade. Recomendo.